Poucas vezes na história republicana brasileira os políticos estiveram com a reputação tão comprometida quanto atualmente. Com as constantes denúncias e a exibição da imagem de governador e parlamentares embolsando dinheiro público, a deterioração atingiu nível intolerável. Político virou palavrão. O que aparentemente pode parecer cômico, no fundo é preocupante. Se os homens responsáveis pelo funcionamento das instituições se mostram incapazes de responder ao desafio, a democracia é posta em xeque.
Propostas moralizadoras apresentadas nos últimos anos não obtiveram o aval do Legislativo. A rejeição tem sua lógica egoísta. Esperar que um clube de vencedores essa é a composição do Congresso votasse contra as regras que o conduziu ao poder exigiria do sócio espírito público de quem pensa nas próximas gerações, não nas próximas eleições. Predominou a vontade dos imediatistas. Para mover a resistência, o eleitor tomou a frente. Recorreu a mecanismo assegurado pela Constituição. Iniciativa popular, empurrada por 1,6 milhão de assinaturas, exige ficha limpa para candidato a cargos eletivos.
Em síntese, o projeto prevê a inelegibilidade de políticos condenados por órgãos colegiados em crimes que vão de homicídios, passam pelo tráfico e chegam à administração pública. Alcança também os fujões. Parlamentares que renunciam ao cargo para escapar da cassação ficam oito anos impedidos de disputar cargo eletivo. Em suma: traficantes, homicidas, corruptos e assemelhados são preventivamente afastados das urnas.
O forte apoio da sociedade, porém, esbarra na má vontade do Congresso Nacional. É importante que o projeto tramite com agilidade. Os líderes dos partidos se reúnem hoje com o presidente da Câmara, Michel Temer, para definir um calendário de discussão da matéria. Parlamentares e movimentos de combate à corrupção eleitoral querem que a proposta seja votada na segunda semana de abril. Para ser aprovada, precisa do apoio da maioria. Em bom português, PT e PMDB precisam vestir a camisa ficha limpa. Como eles são sócios do clube de vencedores, há dúvidas sobre a adesão à proposta. Tudo indica que ela também, a exemplo da iniciativa popular que mobilou mais de 1,5 milhão de brasileiros, precise de forte pressão para se tornar lei.